CANA-DE-AÇÚCAR

As necessidades de energia das usinas de cana no passado eram supridas por terceiros, notadamente a madeira das florestas nativas (lenha). Mais tarde esta indústria passou a consumir também óleo combustível e comprar energia elétrica das concessionárias. Enquanto isso queimavam nos campos ou em grandes piras, os resíduos combustíveis da agroindústria, que contêm 2/3 da energia da cana.

A crise do petróleo obrigou a dominar a tecnologia da queima do bagaço e as usinas conseguiram atingir a autossuficiência. No início deste século, começaram a exportar energia para o setor elétrico, processo ainda em estágio inicial, mas que deve crescer com a queda de barreiras institucionais do setor elétrico a partir do Marco Regulatório (2004) que reconhece a Geração Distribuída.

No fluxo de energia entre a plantação e o uso final (energia útil) acima, as setas cinzas indicam as principais perdas observadas na cadeia energética da cana. O aumento da eficiência, em qualquer ponto da cadeia, contribui para aumentar a energia final (e consequentemente, a receita) a partir de uma mesma área plantada.



Dentre as ações, se destacam, no campo, o aperfeiçoamento genético da cana (para simplificar, o gráfico não explicita a energia solar não aproveitada na fotossíntese que ainda é enorme), das tecnologias de plantação e de transporte da cana que depende do óleo diesel. No processo produtivo é fundamental a melhora do uso energético do bagaço e da palha; além da cogeração cabe examinar outros aperfeiçoamentos, tais como a produção de combustíveis sólidos e de etanol de segunda geração. Destaca-se ainda, a necessidade de aumentar a eficiência da utilização de etanol nos motores de combustão interna, tanto nos FLEX quanto em motores projetados para esta finalidade.

Numa outra linha será analisada a densificação e a torrefação do bagaço e da palha, processos que transformam essas biomassas em biocombustíveis sólidos homogêneos com densidade energética elevada, de queima limpa, fáceis de transportar, estocar e utilizar e, portanto, superiores à biomassa “in natura”.

A produção de biocombustíveis sólidos é pouco capital-intensiva, não depende, necessariamente, de grandes escalas de produção. Usa tecnologias testadas e/ou que não dependem de saltos tecnológicos. A produção em uma usina de cana tem a vantagem de usar insumos com baixo custo local (biomassa, energia elétrica e calor) trazendo, inclusive, ganhos de escopo que alavancam a economia das atividades tradicionais da agroindústria da cana.

No Brasil, o uso de biocombustíveis sólidos obtidos a partir de biomassa de origem florestal se concentra no Sul, mas é muito pequeno vis-à-vis a quantidade de resíduos de biomassa produzidos no país. Um dos entraves à sua expansão é de natureza cultural, por associá-los ao subdesenvolvimento. Na Europa, essas barreiras vêm sendo superadas e os biocombustíveis sólidos são hoje competitivos com os de origem fóssil. A demanda europeia, bem pouco significativa no início da década passada, em 2010 já alcançam 14 milhões de toneladas, sendo 20% importadas dos EUA e Canadá. Considerando seu preço atual dos pellets de madeira no mercado europeu, de cerca de US$ 180/t, estima-se que esse mercado movimente perto de US$ 24 bilhões no comércio desses combustíveis.

Como o conteúdo energético do bagaço e da palha da cana equivale à metade do petróleo produzido no país, o novo biocombustível pode ter um papel de grande importância econômica e ambiental.

A cadeia de transformações e de usos da cana de açúcar apresenta relevantes oportunidades de aumento da sua eficiência energética com agregação de valor, custos decrescentes e forte desenvolvimento econômico. Em contraste, as cadeias do petróleo e na energia hidrelétrica os aproveitamentos de menor custo já foram realizados. Seus desafios tecnológicos e riscos ambientais tendem a aumentar, enquanto suas cadeias de produção, transformação e uso já operam com eficiências elevadas.

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